quinta-feira, 29 de março de 2007

mulherismos 1

Tirinha do Piu.
Quem quiser ver mais:
http://palitinhos.blogspot.com/
A D O R E I!
Joselita como eu.
Clique na imagem para melhor visualização.

FESTA de NIVER da FEr

segunda-feira, 26 de março de 2007

O Vampiro e a Polaquinha



Eu e o Horácio no Festival de Teatro de Curitiba

quarta-feira, 21 de março de 2007

TRAIÇÃO

Meninas, estou em polvorosa!

Ando desconfiada que meu marido no Second Life
está me traindo!
Não sei, mas ele está dando toda a pinta:

- chega tarde em casa,
- não me dá mais atenção
- outro dia cheguei em casa e tinha uma loira
sentada com ele no sofá.

Não sei o que fazer!?

segunda-feira, 19 de março de 2007

Arco-Íris da Gravidade

O artista-plástico Zak Smith criou 760 ilustações para o livro "O Arco-íris da Gravidade", de Thomas Pynchon. Uma ilustração por página do livro. UFA!
INCRÍVEL!!!
Esse é o meu livro favorito nunca lido.

http://www.themodernword.com/pynchon/zak_smith/title.htm

sábado, 17 de março de 2007

.São meninas e são quixotes

Coloquei no link ao lado,
mas vale citar aqui também
www.restosdegeladeira.blogspot.com
É o blog da meninas. Elas são demais!
Saudades de vocês.

She got a TICKET to ride

Última do meu novo companheirinho:
comeu meu pé de pimenta.
hehehehehhhehehehehee
bem feito, porque ele comeu a minha sandália novinha.

6000 watts

Ai, que chato!
O que a gente faz quando mora sozinha em um andar só pra gente,
é automaticamente a síndica do prédio e sua ÚNICA vizinha que além de gente boníssima está em Salvador?
E melhor: Você agora tem um som de 6.000 watts de potência!!!
FESTA FESTA FESTA.
Quem quiser aparecer manda um e-mail pra ser convidado pra próxima:
cinthialcantara@gmail.com.br

A propósito o show do Beijo a a Força será dia 22/03 no Vox, pra variar eu estava adiantada.
Beijos

quinta-feira, 15 de março de 2007

Material para o BLOG

Hoje eu vou em DUAS festas só para ter material para o BLOG.
Uma delas eu vou encontrar uma pessoa que está aqui para dar uma palestra
e faz um megasucesso e com ele aconteceu uma das histórias mais loucas e engraçadas da minha vida. E na outra, é a despedida de uma das minhas bandas favoritas "Beijo a a Força". Eu tenho que ter mais conteúdo...
beijos e bom fim de semana!

Consultora Financeira

- Gente, eu sei a solução para os nossos problemas financeiros.
Diz Liliana enquanto devoramos uma caixa de minihambúrgueres, minidogs e miniesfirras.

Mulheres sempre sabem o que as outras mulheres devem fazer,pena que nossa percepção não funcione assim tão bem quando a coisa é pra nós mesmas.

- A Flávia. Flávia é minha amiga e gerente financeira de um grande banco. E ela presta consultoria para mulheres como nós, que de vez em quando gastam demais e se perdem nas contas. Continua Lili.

- Estou indo a bancarrota. Não consigo controlar meus gastos, sempre estou com o cartão de crédito estourado e entro no cheque especial. Daqui a pouco vou penhorar as jóias de família.
Eu desabafo, com cara de desespero.

- Eu vou ficar milionária em três anos! Michelle diz com segurança.

Nesse momento uma luz se projeta sobre ela e anjos começam a tocar.Pelo menos foi assim que eu e a Lili imaginamos quando a Michelle falou. Agora tudo que ela fala toma ares proféticos. Pudera, depois que ela passou seis meses espalhando que iria namorar um rock star nova-iorquino e nenhuma de nós acreditou e o cara acabou despencando de lá até aqui só pra vê-la. E melhor, trouxe um monte de amigos lindos juntos. Realmente o que ela disser eu boto fé e digo AMÉM.

- Só vou confirmar com a Flávia se minhas idéias estão corretas, mas vocês sabem, "Michelle sabe tudo". Confiem em mim.


Eu, mais que empolgada - Ok, tô dentro. Vamos nos erguer pra frente em todos os sentidos, começando pelo suado dinheirinho. Ai, como sou chique. Agora tenho:
Um cachorro, um apê só meu, um terapeuta, um terapeuta holístico, acupunturista, massagista, personal trainning e uma consultora financeira. Uau!


-------------------------------------------------------------------------------------Isso é a minha solução para a passagem de tempo deste texto, pois não estou a fim de pensar em algo.

Atendo o telefone correndo, é a Lili.

- Amigaaaaaaaaaaaaaaaa! Cadê você?

- Tô no trânsito. Indo pra casa.

- Ah! Vem aqui! Estou eu, Mi e a Flávia no restaurante árabe do Alto da XV.

- Eba! Tô indo. Tem falafel? ADORO!

Entro no restaurante saltitante, com uma sacola imensa. Michelle está com a agenda aberta, calculadora sobre a mesa, anotando tudo e olhando pra Flávia com cara de concentrada. Liliana está com um copo de cerveja e um cigarrinho em cada mão.
Ninguém me dá lá muita bola, pelo menos, não do jeito que eu gosto.

- Oi, oi, oi! Muito prazer, sou a Cínthia. Você é a Flávia, né? Acabei de te conhecer e você é tudo que eu preciso no momento.
Falei tudo isso, beijando e abraçando as meninas e procurando um lugar para sentar na mesa. Enquanto isso, Mi aponta seu dedo para a sacola e diz:

- O que tem nessa saculinha aí?

- Ah, isso aqui? Uns biquininhos e uns vestidinhos.
Respondo disfarçando a sacola embaixo da mesa fazendo cara de que não é comigo e já emendo uma justificativa.

- Mas estava tudo com 30% de desconto.

Neste momento, Michelle olha pra Flávia indignada:

- O quê? Tá vendo Flávia! Olha ela, com o cartão estourado e já foi comprar um monte de coisas.

Lili:

- Ai, amigaaaaaaaaaaa...Me mostra, me mostra! Que lindo!!! Onde é a loja?
- Campo Largo. Loja da tia da Jéssica.
- Campo Largo?
Dizem todas em coro.

- Sim. E ela deixou a loja aberta só pra mim, até agora. A Jé me levou até lá, e eu não podia sair de mãos vazias, né? E depois essas roupas nem são pra mim.

- Como assim não são pra você? Interroga Michelle.

- Não,não são. São para a minha auto-estima.

Flávia, depois de assistir toda essa cena interrompe:

- Você definitivamente deve comentar isso com sua terapeuta.

- Ah, magina! Eu não comento minhas futilidades com ela.

Michelle grita e balança a cabeça:

-Tá vendo, óóóóó. Tudo errado! Tudo errado!

-Uhuuuu, também quero! Tudo lindo, amigaaaaaaaaaaaaa!
Responde Liliana.

Flávia fala e todo mundo presta uma superatenção:

- Uma mulher deve sempre comprar roupas. Não deve passar muito tempo sem comprar roupas. Compre pouco e sempre.

- Tá vendo! Faz uns cinco verões que não compro nada. Nem biquíni.
E isso são pra minhas férias no Morro de São Paulo. Preciso estar linda!

Mi:

- Suas férias é daqui DOIS meses!

- Eu sei, eu sei... mas você não escutou a Flávia?
Compre roupas SEMPRE.

- Sim. E por acaso a sua audição é seletiva? POUCO e sempre.

- Ah, só foi hoje. Mas amanhã tem uma promoção na Vide Bula imperdível!

segunda-feira, 12 de março de 2007

Vernissage da Adriane Pasa




Foto 01. Obra "Aparecida"

Foto 02. Kely, eu, Barney e João.

Exposição "Universo Feminino IV"
da Adri Pasa, até dia 22/04,
no Museu Alfredo Andersen.

A LIBERDADE

Ela te liga e pergunta se É amor? Você responde que Não sei... Talvez e ela não parece nem um pouco satisfeita Você é como todos os outros que passaram pela minha vida e não deixaram marcas e você poderia continuar a conversa mas precisa continuar o trabalho ou vai se atrasar tanto que A gente pode se encontrar e conversar pessoalmente sai antes que você tenha tempo de Tudo bem e aí é tarde, adeus trabalho, adeus amor, adeus dia tranquilo no qual finalmente sua vida ia entrar em bom ritmo Pode ser no restaurante que a gente foi na primeira vez e você aceita antes mesmo que ela possa conter o riso e o arfar ansioso e você saca de imediato que foi pro brejo e noite e muito mais terá se acabado antes que o dia seguinte amanheça.
Na bolsa uma faca de cozinha que você não denuncia nem mesmo ao se aperceber que a costela de carneiro está mal assada Que delícia, não é? e Está ótimo você Quem diria que Um dia a vida vai Será que nós Nunca vou lembrar a verdade do Morri de inveja e o beijo ocorre como se assim devesse ocorrer (só pra constar, assisti Brokeback Mountain e lembrei agora que certos beijos têm mais comprometimento que outros) e logo as mãos e as pernas e a umidade e a secura e a vontade de um dia Você voltou a fumar? ela não responde, continua a soprar a fumaça e olhar pelo espelho do teto que seu corpo emagreceu e que uma pequena marca vermelha aparece perto da virilha e alguém Saí com dois caras ontem e você não se faz de surpreso porque realmente não é Eu sei Você não está bravo? Não Você me ama? e você não responde, levanta e vai pelado até a mesa e mexe na bolsa enquanto ela Se a gente casar, não preciso procurar outros caras e você apenas apaga a luz e pensa que amanhã o trabalho irá render e que finalmente sua vida entrará nos trilhos e não precisará mais pensar se ama pois ninguém mais o questionará e o único amor verdadeiro é aquele que terá por si mesmo na busca incenssante de preservar a liberdade, plena e suprema liberdade.

Wilson Sagae

Como fugir da vida real apaixonando-se por um rockstar (para Cínthia)

Quando sua vida estiver sem graça, seus amores tiverem ido embora, suas finanças forem à ruína, seu carro estragar, seu trabalho tornar-se um sacrifício diário, sua avó ligar dizendo que não está nada bem e precisa que você vá atendê-la, sua melhor amiga ficar chatíssima, ou pior, muito mais interessante do que você, seu cachorro estiver carente, seus vizinhos estiverem olhando feio por conta do condomínio atrasado e até o moço que pede trocados no sinal te olhar com um certo ar de piedade, não desanime. Há solução.
Lembre-se de como era ser adolescente nos anos 90. Você vestia calça xadrez e camisas de flanela. Enormes, ambas. Por alguma razão, a tecnologia se encarregava de diminuir o tamanho de tudo, exceto dos tênis. Os tênis eram imensos, inspirados nos modelos dos jogadores de basquete. Usava-se tênis enormes e coturnos desconfortáveis. Você tinha um colar esquisito pendurado no pescoço. Andava com a pasta da faculdade embaixo do braço o dia todo e nem mesmo carregava bolsa - porque bolsa para os grunges era inadmissível. Você protestou em praça pública contra o Collor. Você assistiu a Anos Rebeldes e acreditou pelo menos durante o período da mini-série que poderia mudar o mundo. Achou um clube bem escuro, sujo, fedido e superalternativo e fez dele a sua segunda-casa. Fez uma turma de amigos muito modernos e engraçados. Tomou altos porres de cerveja, cachaça ou vodka baratas. Benflogin, Bentil, Ciclopégico, Hipofagim, Inibex, benzina e um baseado de vez em quando. Roubou o carro do seu pai. Montou, ou quis montar uma banda meio punk, meio grunge, meio glam. Deu um super amasso (naquele tempo as pessoas davam amassos) naquele gato cabeludo com cara de louco psicopata. E ele nem telefonou no dia seguinte. Você tinha uma camiseta do Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains, Hole, L7, um desses aí. E você achava a voz do Eddie Vedder enlouquecedoramente sexy. Não sei por que motivo a gente ouvia mais o Pearl Jam e gostava mais do Eddie Vedder... deve ser porque naquela época o Chris Cornell estava escondido naquele cabelão sujo. Seus lindos olhos azuis estavam vermelhos. E o seu porte de supermodel estava arqueado, porque o rapaz mal conseguia manter-se em pé.
Então o tempo passou. Você formou-se em alguma coisa que hoje se pergunta se era mesmo a escolha certa. Os amigos da faculdade mudaram de cidade. Tomou um monte de foras, incluindo o daquele ex-cabeludo que nem era assim o mais interessante e que hoje é um advogado de relativo sucesso, com seu terninho bem aprumado e cabelo bem cortado. Assumiu uma porção de responsabilidades. Matriculou-se na academia (se frequentou, são outros quinhentos). Casou talvez. Separou talvez. Encontrou numa balada bem mais light do que as de antigamente aquele ex-namorado tão querido de anos atrás – que horror! Tão gordo e cheio de filhos. Tudo ficou sem graça. Ou com muito menos graça do que naquele tempo em que a única preocupação séria da vida era não ter muitas notas vermelhas e ver seus pais cortarem as suas saídas.
A gente envelhece e a vida perde a cor.
É assim então que entro com a minha teoria de que a solução é apaixonar-se por um rockstar. Lembre-se de como era ser adolescente e acreditar que tudo era possível. Que você era um sonho possível. Nossa arrogância aos dezesseis é deliciosa: seremos a jornalista de cultura mais influente do país; seremos mais cool do que o André Forastieri; jamais ficaremos caretas como os pais; seremos belas, bem resolvidas e bem sucedidas; teremos um apartamento superlegal; um carro bacana e a cada seis meses passaremos férias em Nova Iorque, Paris, Lisboa, Barcelona; teremos um namorado lindo e apaixonado e principalmente, ele será alguém a quem admirar. Tudo isso aos vinte e cinco. Não era mesmo assim?
O que terá acontecido de errado?
Lamento informar: seu corpinho jamais será como era aos dezesseis, mas a cabeça pode resgatar a memória afetiva. Funciona assim: você resgata um daqueles ídolos e apaixona-se por ele.
Escolha um que esteja lindo ainda. Que não tenha virado um velho caído de tanta droga. Alto. Forte. Que viva muito longe de você. Que tenha um fã clube na internet para você poder procurar as fofocas e as fotos mais recentes. Casado (que é para fazer você voltar à realidade em caso de pira total). Com filhos (para o caso de sua loucura ir verdadeiramente longe você chegar a ter um romance com ele- assim você sabe que ele tem outras prioridades na vida). Que tenha cds e dvds sendo lançados para você poder gastar dinheiro com isso. Ah: turnês! Turnês são muito importantes; fundamentais eu diria. Assim você pode programar sua viagem de férias e fazê-la coincidir com o show do cara em Los Angeles. Assista MTV, fuce em sebos de cds. Procure versões, regravações, participações especiais de seu amor platônico em todos os lugares possíveis. Compre um som com mp3 para seu carro, coloque tudo o que você encontrar dentro dele e ao sair de casa de manhã para o seu trabalho chato vá cantando aos berros sua música preferida. Procure seus traços naquele mocinho meia boca que está de olho em você e que depois de umas três caipirinhas sabe que é parecido? Nem fique triste se aquele bobão que está só te enrolando não te der bola. Afinal, falta muito arroz com feijão para ele chegar perto de seu rockstar. Ganhe dinheiro e siga o cara pelo mundo. Se não encontrá-lo, ao menos viajou bastante e conheceu um monte de gente bacana. Arrume-se. Vista-se. Passe perfume. Vá a academia. Depile-se. Faça tudo como se aquele amor platônico pudesse acontecer a qualquer momento.
Talvez (ou muito provavelmente) você nunca irá encontrar o tal sujeito, mas certamente não será pega desprevenida quando um amor de verdade aparecer.
Tente. Funciona.
Eu particularmente sugiro o Chris Cornell. Ele preenche todos os requisitos acima citados e além de que – para o caso de sua obsessão estar indo um pouco além dos limites da razão- tem um irmão igualzinho a ele, bem menos famoso, acessível e solteiro, vivendo em Nova Iorque, onde tudo pode acontecer. Hahaha.

Michelle Martins Pinto, amiga querida e sócia do Bureau de Fatos.

* QUEM DIRIA QUE ESSE TEXTO SERIA TÃO PROFÉTICO???
Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai!
Vou ter que postar uma foto aqui...

QUANDO O PUNK RESSUSCITOU PARA MORRER GLORIOSO

Sexta-feira.
(tudo o que dá pra fazer é lembrar. A gente nunca teve um CBGB mas o Vox deu conta)
Um pequeno cachorro preto, recém saído do pet-shop, foi atropelado na esquina das ruas Saldanha Marinho com a rua Ébano Pereira. Seu dono não estava por perto. Márcia Hilly foi quem primeiro suspeitou da coleira com tachas prateadas, mas foi Paulo Kristal quem leu o nome e se emocionou.
- A gente precisa enterrar o coitadinho.
(tem de ser sob o meu ponto de vista. Tudo o que você sabe do Vox sou eu que conto)
Nestes dias de inverno a noite cai antes de soar o badalo das seis. Por ironia divina,
(não inventa demais)
a noite desaba e as estrelas acedem. Feito mariposas coroadas de mercúrio procurando a luz, a fila desordenada começa a se formar. Mais cedo que o normal, os convivas estacionam seus carros, posicionam seus coturnos, borram os olhos marcados de lápis preto. Mais cedo que de costume,
(tem gente que acredita que)
as lojas ao redor fecham as portas e a música das pick ups ecoam nas paredes da secretaria de cultura. Duas imensas caixas de som pretas, voltadas para o céu, anunciam que algo de grave se deu e é preciso que os portões do céu se abram.
- Talvez devessem estar voltadas para baixo.
- Mas aí ninguém ia conseguir ouvir.
Train in Vain
E continuam a vir,
(foi tanta gente. Como nos tempos do Amaryli’s)
atraídos pelo som de mil baixos e milhões de complicações; convocados por meio das micro-ondas de celulares e das mil teclas de Orkuts e MSNs; avisados pelo sentimento de tristeza que fez quedar das árvores algo além das folhas outonais tardias. Como vítimas da tempestade dos últimos dias, pardais e sábias fulminados pela infinita fragrância de desespero e desassossego. Um sentimento que perfuma o ar,
(lembrando tudo parece engraçado, mas não foi)
misturando acentos de tabaco ao cítrico de um rio de lágrimas.
Give 'em Enough Rope
Gelson senta-se no meio-fio e bebe uma dose de vodka. Não conversa, apenas toca o líquido transparente nos lábios e deixa que seja absorvido. Ao seu redor, duas centenas de pessoas olham umas para as outras. Reminiscências de um tempo que parecia que algo aconteceria. Algo grandioso.
- Eu sinto saudades de tanta coisa que nem sei dizer.
- Eu amava a Debbie Harry. Aquele jeitão de modelo e uma cara de quem não sabia o que estava acontecendo.
- Nunca entendi o New York Dolls. Os caras vestidos de
organdi amarelo sobre forro de cetim rosa nunca ficou bem em homens de pernas peludas.
Joe Mauricião Ramone coberto de couro e cinta-liga procura um cinzeiro. Dado Strummer reclama que o coturno aperta no calcanhar porque ganhou alguns quilos em churrascarias rodízio de beira de estrada. Pedro Sylvain Sylvain carrega Lúcio no colo, pedindo clemência a Batgirl, furiosa pois tudo o que acontece acontece sem dever acontecer, apenas por ser assim.
- Alguém telefonou para o dono?
- Acho que a Márcia fez isso.
Cinthia Acin Songs for Drella desculpa-se
- Vim direto do trabalho, nem deu tempo de me produzir.
E com olhar de quem parece que algo aconteceu de mais grave e não percebeu, diz que
- trouxe alguns quadrinho do Osama Tezuka para quem quiser ler.
(o tempo, sabe, passa de um jeito que você nunca vai entender porque fica copiando a vida dos outros no papel que nem é seu. E pior, na tela que você nunca vai saber de quem)
Duas caixas de Heineken na calçada e milhares de pontas de Marlboro se vão em uma piscar de sinal. Do vermelho para o verde e novamente para o vermelho. Dustin Buddy Holly tira o suor do rosto e termina de cavar o buraco. Paulo Kristal elogia o cuidado que teve para não ferir as raízes da árvore.
- Seria crime ecológico. Sem fiança.
- Você não me avisou.
- Não. Mas a loira gostou.
(tem gente que vai só pra dizer que foi, como se o Vox fosse uma casa histórica. Tipo: eu sentei na cama que o George Washington perdeu a virginidade)
O corpo vem embrulhado em papel celofane. Never mind the bollocks à toda. Tremem os vidros dos automóveis. Um pequeno congestionamento provocado por gente que não entende.
- Vão pra casa, bando de desocupados!
China todo de branco, trêmulo, usando de todo o seu esforço que a tristeza permite.
- Não têm coisa melhor pra fazer?
Poucos conseguem conter as lágrimas.
- Vou chamar a polícia!
- Cala a boca ou te encho de porrada.
Batgirl poga a porta do opala dourado e coloca o motorista de sobreaviso.
- Você não entende que Sid Vicious morreu?
- Vai à
Duas centenas de pessoas socam, pulam, empurram, chacoalham, mordem, gospem, xingam, apertam, até que o automóvel jaz com as rodas para o alto.
- E não se esqueça disso!
Entre gritos e comemorações, China enterra o poodle toy que ganhou de sua tia e do qual tinha vergonha por ser um poodle toy mas que, no último momento, percebeu que não importava. Sob aqueles pompons e fitinhas, Sid Vicious sempre foi o mais punk de todos.
- Lembre-se Do it yourself.
Gelson derrama na tumba a vodka e corre dar uma cabeçada na porta do opala dourado. O sangue espirra como um chafariz de final de ano, espalhando gotas brilhantes no ar.
- É. A gente vai ficando velho e alguma coisa muda.

Wilson Sagae, é escritor, editor do Jornal Cornélio

quinta-feira, 8 de março de 2007

Girl's night

Agora toda quarta-feira.

Hoje, dia 08/03, Dia Internacional das Mulheres,
é o dia de receber parabéns, flertes, e-mails,
textos, flores e chocolates.
O último chocolate que recebi, de uma agência de
publicidade, vem com o seguinte texto na embalagem:
"A solução dos seus problemas"
Indicado para:
- Filmes tristes
- Discussões
- TPM
- Saudades
- Crises
- Carências
- Angústias
- E muito mais

Ok. O chocolate já foi.

Ontem na Girl's night a discussão foi:

- PRECISO FAZER SEXO!!!

Mi, me diz:
- Que nada, você precisa de um bom laxante.

Dra. Fobiks, rebate:
- FLUOXETINA. A melhor coisa do mundo.

Olhei desolada para a Danusa esperando uma salvação.
E ela:

- Morro de São Paulo.

Eu, aliviada:
- Ótimo! A-D-O-R-O paulistas. E pra lá que eu vou nas férias.

Dra. Fobiks tira o livro "O Que toda Mulher Inteligente
deve Saber" da bolsa, no meio do bar.
Tomo da mão dela o mais rápido possível.

- Que idiotice: "Uma mulher inteligente sabe que não deve
cozinhar para nenhum homem". Leio em voz alta debochando.
- Eu adoro cozinhar para os mocinhos.

Mi diz:
- É, mas não cozinha para as amigas.

Ok, faz tempo que não cozinho pra ninguém. Nem pra mim.

Voltei ao livro.
- Tem algo sobre não se envolver com homem casado?
Perguntei fingindo desinteresse como se não fosse comigo...

Todas juntas, e enfáticas:
- Claro!!!
- Procura aí.
(mil dedinhos e olhos apontados para o livro)

Dra. Fobiks com sua vozinha megameiga e pausada:
- Tá antes do marcador de páginas.

A conversa continua, alternando um assunto sobre
o outro, tomando Malzbier, cigarrinhos e quibes.

- Ahhh, ex-namorar é uma delícia.
Danusa solta essa com um sorriso largo,
de fazer inveja.

* Ela está saindo com um ex.

- E eu! (Dra. Fobiks) fazendo cara de triste.
- Estou a ponto de me atirar do precipício.
- De novo!

* Ela está bravamente resistindo a um psico.
E volta-e-meia ela acaba cedendo.

- Ahrrr! Quer coisa mais cretina do que responder um e-mail
com um "OK"? Óquéiiii. Só isso!
(Michelle entre dedinhos estendidos balançando um cigarrinho)

*ela está pensando em mais uma vingança do pipoqueiro.

E eu concentradíssima entre as páginas do livro,
longe da conversa. Verifiquei o índice, e nada.
Procurei antes do marcador, depois do marcador...
- Nada.
(falo quando largo o livro fechado sobre a mesa)

Dra. Fobiks:
- Tem sim, tá pelo meio.

- Pois, não achei.
(cara cínica)
- Que bom!!!
- Ai,ai,ai!
(Suspira aliviada, com cara de safada)

A mesa explode em gargalhadas.

- Viva a fluoxetina!
- Viva o lactopurga!
- Ah! Viva os paulistas!

O mundo sem as mulheres

O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra que?
O sujeito quer ficar famoso pra que?
O indivíduo malha, faz exercícios pra que?


A verdade é que é a mulher o objetivo do homem. Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função de você.


Vivem e pensam em você o dia inteiro,a vida inteira...


Se você, mulher, não existisse, o mundo não teria ido pra frente.


Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro homem, para conquistar um sujeito igual a ele, de bigode e tudo.


Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.

Já dizia a velha frase que "atrás de todo homem bem-sucedido existe
uma grande mulher". O dito está envelhecido.


Hoje eu diria que "na frente de todo homem
bem-sucedido existe uma grande mulher".


É você, mulher, quem impulsiona o mundo.
É você quem tem o poder, e não o homem.
É você quem decide a compra do apartamento,
a cor do carro, o filme a ser visto,
o local das férias.


Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem-sucedida ficou na frente de todos os homens.



E, se você que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma mulher.


Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua.
Só homens. Já pensou?
Um casamento sem noiva?
Um mundo sem sogras?
Enfim, um mundo sem metas.



(Arnaldo Jabor) - bom vai saber se é dele mesmo, essas coisas da internet sempre dizem que ele é o autor. mas aí vai o crédito, sem muita certeza.
Texto enviado por Elaine.


Exposição dos meus amigos Didi e Small.
A família mais fofa e talentosa que eu conheço
e amo muito! Parabéns pra vocês!!!

terça-feira, 6 de março de 2007

Monstrinho Fofo


Ele é lindo! Estou apaixonada!
Não paro de pensar nele e quero voltar
logo pra casa pra rolar no tapete com
ele. O nome dele é Ticket.
Ele é filho do Lúcio e seria vendido e
o dinheiro revertido em uma passagem
para N.Y.
Eu e a Mi caimos de amores por esse monstro.
E agora, ele vai comigo pra N.Y.
: )
Lista de coisas destruidas pelo pequeno:
- Um I POD novinho
- Uma sandália
- Uma carteira de Carlton Crema
- Um livro que o Jones me deu "Medo da Liberdade"
(incrível, só sobrou e certinho a palavra LIBERDADE)
- Meu celular.

Melancia

Por Elaine Antunes

Não que melancia fosse sua fruta favorita, mas naquele dia estava realmente inspirada. Uma grande, enorme, super, vontade de comer melancia.
E tudo começou quando passava pelo mercado municipal, a caminho do ônibus que a levaria à casa dos pais, para uma breve visita:
— Moça, vai aí uma melancia? - perguntou o simpático moço da banca
_ Pega um naco pra experimentar... veja como está suculenta!
Ela experimentou.
— Vou levar uma - decidiu.
Depois que comprou, percebeu um pequeno problema: como levaria aquela melancia para casa?
“Hum... acho que não deve ser difícil levar isso no ônibus...”
Ônibus lotado. Encarou assim mesmo. Corajosa, fez pouco de seus um metro e meio de altura e permaneceu, altiva, em pé no corredor, já que nenhum “cavalheiro” se dispôs a dar-lhe o lugar ou segurar-lhe a pesada fruta.
Já com os pequenos braços doloridos, chegou a hora de descer. Outra aventura ter que atravessar o ônibus. Conseguiu.
“Como sou esperta... comprar uma melancia e andar com ela de ônibus... só pra minha cara mesmo! Tem que haver um jeito mais fácil de carregá-la...”
E havia. Pelo menos foi o que pensou, quando resolveu colocar a melancia no chão e ir rolando a fruta com o pé, mais parecendo uma grande bola de futebol americano. A grande idéia até que deu certo. Pelo menos por alguns metros. Até que, por causa de uma pedrinha na calçada, a fruta desviou-se de seu curso e deu-se com tudo em um poste. Espatifou-se. A moça olhava com desolação a fruta despedaçada. — Ah... minha melancia! - lamentou-se - Não, isso não vai ficar assim, eu vou comê-la, viu? De qualquer jeito, viu? - esbravejava para os pedaços de melancia no chão, como se fossem malcriações que a tivessem feito. Juntou os pedaços, um a um, mesmo os que tinham terra e pedregulhos da calçada. “Não tem problema, dou uma lavadinha. Não há de fazer mal”. Enfim chegou à casa dos pais. Exausta, mas vitoriosa. Foi direto à cozinha. Lavou cuidadosamente cada pedaço que considerou aproveitável. Resolveu guardá-los para que ficassem fresquinhos. Ao mesmo tempo em que abria a porta da geladeira, o pai surgia na cozinha:
— Viu, filhinha, o que comprei pra você? Sabia que viria e quis fazer essa pequena surpresa - disse-lhe o pai, sorridente, referindo-se a duas enormes melancias que estavam guardadas na geladeira.
E ali ficou a moça, a fitar as frutas por alguns instantes, com um olhar desolado, boca apertada e um leve balançar de cabeça. Em seguida, fez ao pai uma pergunta, quase que um comentário: — Pai?... E se eu dissesse que na realidade estou com vontade de comer kiwis?

Elaine Antunes é coordenadora de marketing dos Supermercados Condor,
e minha amiga do coração. Com essa crônica ela ganhou o 1º lugar do Concurso de Crônicas entre os funcionários da Livrarias Curitiba.
Crônica baseada em um história real... muito engraçada, é só pedir que eu conto.

A Fernanda me mandou.

Em Homenagem aos 500 anos de Dom Quixote

Cínthia me diz que preciso variar.
- Já que para uma mesa no El Bulli são 4 anos de espera, e aqui não tem restaurante croata, vamos a um espanhol aqui no centro. Você vai adorar o risoto de polvo deles. É famoso.
Desço do Monza argumentando que se Curitiba tivesse um verão de verdade, mediterrâneo, daqueles de fazer encharcar a camisa, então seria ao menos prazenteiro avançar além de portas de vidro para sentar em cadeiras comunais e me servir de uma sangria gelada a acompanhar um belo prato de Jamon e torradas ao azeite extra virgem.
(Para evitar parecer apenas um autor passando por uma crise de descaso com a vida, adianto que estou enjoado de comida de restaurante. Daquele sabor burocrático e da apresentação insípida).
Acomodados na mesa de canto, Cínthia tira do envelope as folhas impressas e enquanto lê, agradece por eu ter escrito o texto sobre os 400 anos da primeira edição do Quixote e,

- É sério?!

Miguel de Cervantes Saavedra [1547-1616], aos 20 foi condenado a perder a mão direita devido o seu furor em aceitar e provocar duelos; fugiu e tornou-se soldado; aos 24, na batalha de Lepanto, levou um tiro na mão esquerda e ficou aleijão; com 28 anos foi capturado pelos turcos e ficou refém-escravo durante 5 anos; então, em 1580, começou a publicar trabalhos.

- Quem ia saber, não é?

Deixando minha boa amiga em paz com minhas palavras, uso o guardanapo para limpar as migalhas que ficaram ao redor de minha boca, iluminando pedaços mínimos de queijo cabrales.

É o melhor livro de todos os tempos. Ou, pelo menos, o melhor livro de ficção. Foi assim que 100 escritores de 54 países decidiram. Dom Quixote, ou, para os puristas El ingenioso hidalgo Dom Quijote de la Mancha. Obra que teve a primeira parte publicada em 16 de janeiro de 1605 e a segunda em 1615.

Bebo um gole da sangria e volto o rosto para a janela, para o beiral da loja de departamentos, sob o qual um homem magro e velho, vestido com um terno puído, descansa a cabeça entre os joelhos.

Diz a tradição ter sido escrito, na prisão Argamasilla, em la Mancha, com a idéia de oferecer ao leitor, expresso de maneira clara, um retrato da vida real e seus modo; servindo também como narrativa a espelhar situações da vida do autor.

Com a pimenta tabasco entre os dedos, mexo nos talheres e brinco com o saleiro enquanto flutuo além dos paralelepípedos ensolarados, contanto as mil aventuras que não vivi, os milhões de caminhos que nunca pisei, as tantas horas que desperdicei com aquilo que poderia ter sido e nunca foi. Salgando a toalha de linho branco, enveredo por uma seqüência de pensamentos que não me traz outra recompensa que não seja a vontade de reiniciar a construção de mim sob a promessa de uma senda pessoal gloriosa.

Quixote, na velhice, se descobre cavalheiro e sai em andanças à procura da glória que apenas sonhou. Diferente de seu autor, que se aventurou antes da literatura, Quixote foi buscar sua ventura após ter consumido a juventude e ma dures em torno dos livros de cavalaria.

À sombra de um farto prato de paella, me dou conta que eu, como o velho a descansar na sombra da marquise, sou como tantos Quixotes, condenado a ser cavaleiro de triste figura pela simples e pura covardia de não abandonar o certo pelo incerto. Incapaz de escolher entre a verdadeira aventura e a verdadeira literatura, mofando no limbo de ser eu um comensal patético, dependente dos horários que a vida profissional impõe. Quase todos os dias caminhando pelas calçadas acidentadas a procura de um bom ambiente para fazer pousar glúteos entorpecidos, e então gastar duas horas de vida, a aprofundar a mágoa pela vida insípida que leva.

Cervantes faleceu em 1616, um ano após ter sido lançada a segunda parte do Quixote.

Cínthia descansa as folhas sobre o envelope.

- Nossa, já terminou? Estava bom?

Respondo um sim surpreso, diante do prato que nem percebi esvaziar.

- Que dia lindo, não acha?

Penso em discordar, desiludido após tanta elucubração, certo de que sem decidir que rumo dar à existência, por maior que seja o sabor oferecido pela vida, é impossível dela extrair prazer. Mas desisto. No cansaço de revelar o que penso e me roupa o paladar, vejo, do outro lado da rua, o velho entrar no automóvel e beijar no rosto a garota que sorri um riso filial, cheio de afeto e confiança.

Wilson Sagae, escritor e sócio do Bureau de Fatos.
Texto publicado na Revista Ler&cia

Amores Brutos

por Adriane Pasa

Sexta-feira à noite. Na locadora de vídeo, cansada de um dia de trabalho sem fim, vou direto à seção de lançamentos de filme arte. Toca meu celular.
- Oi, Adri. É o Lúcio. Tudo bem? Pode falar?
- Posso, claro. Tô na locadora.
- É que... Puxa, você é uma pessoa tão sensível e compreensiva. Gostaria de saber o que você acha de eu convidar a Ana para sair.
Tadinho. Já esperava que ele estivesse apaixonado por ela. Achei corajoso da parte dele ligar para mim, que sou tão íntima da Ana. Quer fazer a coisa certa.
- Puxa, Lúcio, nem sei o que te dizer...Você é um cara bacana sabe, mas não sei se ela ficaria a fim.
- Mas você acha que tenho chances?
“Chances”. No plural. O cara tá mesmo com alguma esperança, não posso desapontá-lo totalmente.
- Ah, eu acho que você deve ser sincero. Mas não pode ser muito persistente, muito chato. Ela gosta de caras mais “difíceis”, sabe.
Difíceis não é o mais correto a se dizer, mas sim estranhos. O cara tímido e bizarro que ainda mora com os avós, o ruivo comerciante de produtos químicos que tem uma banda de rock que nunca toca. Eu nunca vi, pelo menos. Mas não entendo nada de bandas locais. A vida amorosa da Ana dá um filme.
- Sério? Mas você acha que ela já percebeu algo?
- Acho que não.
Claro que a Ana havia percebido e até comentou comigo, mas sem chance. Não rolava, de jeito nenhum. Uma pena.
- O que você acha de eu mandar flores para ela? Tô pensando em fazer isso amanhã. Que tal rosas?
Rosas. Podia mandar uma de cada cor que não ia adiantar. Primeiro ia ficar toda envaidecida, mas depois ia reclamar o dia todo que não ganhou flores de quem ela realmente gostaria. Uma balzaquiana sem sorte no amor, “de que adianta esses caras gostarem de mim?”, tô até vendo.
- Ah, acho bacana. Toda mulher gosta de ganhar flores.
- Mas não tenho o endereço dela.
- Manda no trabalho. Para que serve uma mulher ganhar flores se não pode mostrar às amigas?
- Tem razão. Escrevi até um cartão. Bem bonito, eu acho.
- É. Escreve o que você sente. Elogie.
É o terceiro cara apaixonado por ela no mesmo ano. E isso que só estamos em fevereiro. Pelo menos não é chato como o Gustavo, que liga todo dia e fica mandando pps ridículos por e-mail. “Ninguém merece”, diz a Ana.
- Bom, mais elogio do que isso que eu escrevi é impossível.
- Então beleza. Ela vai adorar. Só não posso te garantir que ela vai querer sair contigo.
- Mas obrigado mesmo assim. Já me aliviou só de contar para você.
Enquanto isso tentava encontrar na prateleira algo que me interessasse, mas nos lançamentos não tinha nada que eu queria, e o resto estava locado. Droga. Sexta-feira é um saco encontrar os filmes que a gente quer. E o João esperando no carro, já devia estar impaciente. Subi as escadas, onde estavam os filmes de catálogo.
- De nada.
- Depois você me diz se ela gostou.
- Claaaaro que ela vai gostar.
Este “claro” foi meio exagerado. Mas também um certo consolo de amiga. Meus olhos percorriam rápido pelas capas dos DVDs, formando uma imagem efêmera e engraçada. Parecia que os rostos dos atores estavam dizendo algo sobre a nossa conversa. Não conseguia me concentrar nas duas coisas ao mesmo tempo. Parei em “Whisky”, um dos meus filmes favoritos. Aquela ilustração da capa, com os três atores tão caricatos e tristes, me fez voltar ao Lúcio, que além de apaixonado, é ilustrador. Então tornei a prestar atenção nele.
- Bom, não vou te incomodar mais. O que você está pegando aí na locadora?
- Ah, tô pensando em levar algum filme argentino ou mexicano.
- Boa. Talvez eu convide a Ana para ver um filme comigo. Depois das flores.
- Sim, ótima idéia. Ela também adora cinema.
Nisso eu já havia descido as escadas e estava no caixa, pagando. O menino da locadora me olhando e dando umas risadinhas. Ouviu parte da conversa, pois estava me acompanhando desde a entrada, sempre pronto a me dar dicas e a conversar sobre cinema. Deve ter me achado meio estranha neste dia, pois nunca falo tanto no celular e também nunca sou tão rápida para escolher os filmes.
- Bom, muito bom.
- Então tá.
- Então tchau, Adri. Obrigado mesmo e desculpe te incomodar. Até mais.
- Até mais, não há de quê.
Paguei, peguei meu recibo e os filmes e fui até o carro, onde estava meu marido. Ele odeia entrar na locadora comigo, pois eu fico horas lá dentro e ele sempre quer chegar em casa logo.
- Amor, faz tempo que você não me manda flores.
- Ué, mas eu já te mandei flores, quando namorávamos.
- Tá, mas é bacana mandar flores também depois que casa.
- Sim, eu sei. Mas já mandei depois que casamos, não?
- Não me lembro. Um dia você me manda flores de novo?
- No seu aniversário?
- Não, tá muito longe.
- Tá bom, um dia eu te mando.
Falou com uma expressão bonita, uma voz meiguinha. Aquela voz que os homens fazem para te consolar e fingir que estão preocupados por um momento.
- Mas manda lá no escritório.
- Ué, por quê? Posso te entregar pessoalmente.
- Não, não tem graça.
- Por quê?
- Porque ninguém vai ver.
- Ai, mulher tem cada coisa... Que filme você pegou?
- Amores Brutos.
- Só esse? Não acredito. Deve estar doente. Você nunca sai da locadora com menos de cinco filmes.
Verdade. Sexta-feira à noite dá uma sensação de que vamos ter todo o tempo do mundo para nos divertir e ficarmos em paz, sem telefone tocando e coisas chatas pra resolver. E o sábado e o domingo - dias tão longínquos - se tornam nosso objeto de desejo mais aflito, de forma que pegar muitos filmes significa que podemos fingir alongar essas horas de prazer e ócio.
- Não, é que o Lúcio me ligou bem na hora e eu acabei dispersando.
- Lúcio, Lúcio...Eu conheço?
- Sim, aquele menino que foi meu aluno e que agora faz mestrado em arte.
- Ah, tá. Rapaz bacana. Ele tá bem?
- Sim, queria minha opinião sobre a Ana. Ele tá a fim dela.
- Ah, é? Mais um que não tem chance.
- Sim, mas eu não falei isso para ele, é óbvio.
- A Ana vai acabar ficando solteira.
- Ai, não fala isso. Ela só é exigente demais.
- Quem escolhe demais...
- Bom, eu também sou exigente e não fiquei solteira.
- É, mas teve sorte de me achar. Sobre o que é esse filme?
- Ai, João, Amores Brutos, do Iñárritu, o mexicano. Aquele do 21 gramas, e que agora dirigiu Babel.
- É sobre o quê? Não é história triste, não? Não é aquele que tem um Rottweiller que é baleado, né? Odeio ver maldades com animais.
- Claro que é. Eu adoro esse filme, mas quero assistir de novo. Não achei outra coisa.
- Amor, não quero ver filme pesado. Não tinha nenhuma comédia romântica?
João estava num azedume, típico de homem cansado de sexta-feira à noite e sem muita paciência para amenidades femininas.
- Ah, não! Não vou gastar meu dinheirinho em filme ruim. Isso a gente assiste na TV a cabo.
- Quer passar na panificadora?
- Não, vamos direto para casa. Você acha que o Lúcio tem chance?
- Se a Ana fosse esperta, ficaria com ele. Mas como ela é uma enjoadinha, acho que não. Tadinho.

- Que triste, não?
- Tá vendo? Por isso que eu não gosto desses filmes de drama. De complicada já chega a vida.
- Mas pelo menos eu não tirei completamente a esperança dele. Sabe como é homem, vai ficar se achando uma vítima.
- Tá cheio de mulher no mundo.
- Sim, mas cada um quer aquela pessoa e pronto. É como filme. Cada um tem um gosto.
- Sim, e eu o-dei-o dramas.
- Mas você vai assistir comigo, não?
- Não sei, se começar a ficar pesado, eu não quero ver.
- Credo, amor, você é muito sensível às vezes. Estes filmes foram feitos para refletir, são histórias sobre a vida, sobre o que há de mais extremo no comportamento humano. Se fosse a Ana, com certeza ia querer assistir comigo. Sem estes cineastas, a vida seria muito chata. O cinema é uma arte onde podemos expandir a mente, ultrapassar limites, ter experiências visuais e sensoriais fantásticas. Filmes bons têm a vantagem de nos dar asas, encher nossa vida de emoções. Não importa se nos farão tristes por um momento, mas abrirão um universo de possibilidades que nos tornam mais felizes. Este filme que eu peguei pode ser dramático, mas não é piegas. Tem muita diferença. É um filme forte, denso, sujo, fala de perdas. O ritmo é fantástico e é um diretor super importante. Temos que assistir. Você entende?
- Vamos comprar pão. Tá me dando fome.



Adriane Pasa é minha amiga, colega de trabalho e minha sócia no Obra Aberta.
Ela é artista plástica, responsável por eventos culturais na Livrarias Curitiba, professora de artes, editora do Jornal Heterodoxo e uma das donas do Obra Aberta. UFA!!!

segunda-feira, 5 de março de 2007

O Último Cigarro

Após aceso, quanto tempo dura um cigarro tragado entre palavras curtas, rápidas e ansiosas? Quanto tempo dura, especificamente, um Carlton Crema?

É por isso que não consigo parar de fumar. Por causa do ritual do último cigarro.
Antes de me despedir da Thaís, em frente à sua casa, dentro do Monza, a gente sempre fala:
"- Vamos fumar o último cigarro".

Aí cada uma pega o seu, passa o isqueiro uma pra outra, espera acender, numa espécie de comunhão de partilha. Então, entre baforadas, falamos nossas últimas impressões da semana, do dia, da noite, uma espécie de review das bobagens, adiando um pouco mais o adeus e a preguiça de ir embora.

Naquela noite eu saí sozinha ao encontro do carinha, não que ele soubesse ou estivesse esperando por mim, mas as expectativas estavam lá... E são elas as maiores culpadas, são elas que te mostram o que poderia ter sido e não foi, são elas que te abandonam depois de te mostrar o paraíso.

Após uma entortada de whiske sauer, cerveja e vários pré-últimoscigarros, às três da manhã a Thaís liga só pra checar como vão as coisas.

Do outro lado um urro horroroso.

- Cinthia?
- AHHSSSSSSSSSSSHHSHHUUUURUUURRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR...
- Você tá bem?
- Nããããããããããããããããããoooooooooooooooooooooooooooooooo...

Só amiga mesmo para entender o endereço de onde eu estava em meio agritos e palavras irreconhecíveis. Thaís sai destrambelhada do bar, entra num táxi imaginando as piores coisas do mundo.

Ao chegar, encontra a cena: carro parado no meio da rua com portas abertas e as luzes acesas, Travis no último (não tinha um trilhazinha mais de acordo não?), maquiagem até o joelho, moicano descabelado, pés descalços, enfim, um horror.
Sabe a cara insana do Woody Alen dirigindo o carro no filme "Simples comotudo na vida"?

Eu me atiro nos braços da Thaís aos berros.

- Então amiga, vamos pra casa e você me conta o que aconteceu...
Eu não ouvia, estava surtada, em transe. Derrubei todas as tranqueiras da bolsa, e só saia gloss.

- Merda, não encontro nenhum lápis de olho.

Eu saio do meu carro discretamente - afinal, não queria acordar o mocinho - subo no capô do carro dele, levanto a saia, abaixo a calcinha, me agacho ecomeço a urinar.
Sabe aquele jato direto, forte e pungente que bate nalataria, escorre e espirra o jorro pra todos os lados? Eu estava querendo eliminar toda a dor que sentia, uma catarse, como se tudo que estivesse sentindo por dentro pudesse ser eliminado junto com todo o xixi.

Thaís, sem dizer nada, entra no carro, escorrega pra debaixo do porta-luvas tentando se esconder, como se isso fosse possível numa rua tranqüila de bairro, sem saída, com todos os vizinhos espiando através da cortina.

Horas depois em frente à casa da Thaís:
- E aí, vamos fumar o último cigarro?

Por Cínthia, há algum tempo atrás.
Publicado no Jornal Cornélio.
Bom, dá pra revelar - se é que algum leitor desse blog ainda não saiba -
que foi quase isso que aconteceu de verdade.

Chá de Panela








Foto 1. Letícia, Ana, Manu e Fernanda.
Foto 2. Lyz, Ana e Liu

Foto 3. Eu e a minha cunhada preferida.


Foto 4. Da esquerda para a direita:
Ana Carolina, Michelle, Dodi, Renata, Fernanda,
Liliana, Belinha (no colo), Elaine, Márcia, Liu (irmã), Kelly, Isis (no colo), eu e Paty.


foto minha antes do casamento da lyz.
tirada com a lomo.
de vez em quando ela funciona.

Pequenas grandezas

A gente só quer andar leve pelas ruas. Viajar e, numa cidade qualquer, flanar como se a alegria estivesse na volta da esquina. Andar sem preocupações e sem fardos nos ombros. Espiar as lojas, contemplar as pessoas, deslumbrar-se com as crianças, sorrir das madames com seus cachorrinhos e tomar um sorvete especial olhando a brisa mexer nas folhas das árvores.

Tem coisa mais simples e bela do que correr os olhos por um ipê-amarelo todo florido? Andar como quem levita. Quase todo mundo quer isso. Não digo todo mundo por ter a certeza de que existem todos os tipos de gostos e que não convém impor os nossos aos outros.

Andar sem pesos é, de fato, um exercício de leveza.
Por alguns minutos, tudo bem pensado, num trajeto de ônibus ou no recolhimento 'forçado' de um avião, a maior parte dos problemas se reduz ao que de fato é: vaidades, intrigas, fofocas, briguinhas absurdas. Uma inesperada e sensata clareza toma conta de nós e tudo entra nos eixos. Basta ter calma, bom senso e uma pequena grandeza para que o grande inimigo apareça como um mero desajeitado e a crise grave se transforme numa simples questão mal encaminhada. É como naqueles sonhos em que a gente tem uma grande idéia. Simples e perfeita. Acorda no meio da noite, ainda com um naco daquilo na consciência, e promete: amanhã vou fazer exatamente o que sonhei. Como não pensei nisso antes? Dorme-se de novo com a certeza de que se amanhecerá melhor.
No dia seguinte, o sonho evaporou. Não resta nada. Sim, resta uma vaga lembrança de uma grande idéia que se desmanchou no ar como um sorriso travesso.

Depois de alguns minutos de luto pela perda da grande sacada, a pessoa retoma o passo e vai em frente com a sensação de ter deixado passar o trem da sua história. Repete duas ou três vezes: por que eu não me levantei para anotar? Jura com sinceridade: da próxima vez, levanto, acendo a luz e escrevo tudo. Horas depois a promessa já se encontrou com a grande idéia esquecida nalgum desvão da memória.

Até que, diante de algo legal, o sujeito fica com aquela estranha sensação de já conhecer aquilo, de já ter pensado aquilo, de estar na presença de algo familiar. Mas não se lembra do sonho nem do esquecimento do sonho. Tudo se foi. Quase acertou. Como quem confere o resultado da Mega-Sena. Saiu um 07. O cara jogou 06. Nossa, quase, por um! Será que a distância entre 06 e 07 é menor que a distância entre 07 e 93? Não importa.

Tem histórias que a gente fica remoendo na cabeça até encontrar a melhor forma. Aí decide contar para alguém. Começa a falar e não é mais nada daquilo. A coisa murcha como uma bola velha. Nessas horas, sempre pensamos que os outros não fizeram bem a parte deles. Não ouviram direito. Não se abriram para nós. Não nos estimularam. Aquela certeza cristalina e simples de que uma pequena grandeza dá aos nossos problemas a dimensão que realmente eles têm é devorada por uma grande pequenez que nos faz hiperdimensionar o ridículo, valorizar ninharias, praticar escancaradamente a mesquinhez e querer pisar nos outros.
Esquisito o mundo, não acham? Tanta variedade, tanta coisa para amar e curtir!
E tanta gente para gostar só de uma coisa e repudiar todas as outras como inferiores ou sem qualidade. Como pode alguém se sentir superior por se considerar fashion ou usar esta ou aquela marca de roupa? Como pode alguém se sentir superior aos outros por ler este ou aquele autor? Como pode alguém se sentir melhor do que os outros por ouvir este ou aquele estilo de música? No fundo, seria mais razoável gostar de tudo um pouco e abrir os sentidos para as mais variadas experiências e estímulos.
Por que não se faz isso? Por que nos deixamos formatar no culto da unidade, da distinção e da competição desenfreada?

Sem mais nem menos, estive pensando nisso, com um torrão de terra roxa nas mãos, numa breve visita à cidade de Londrina. Fiquei hospedado num bom hotel quase no estacionamento de um shopping. Nada de errado. Pessoas gentis e lufadas de ar fresco. Fiquei, contudo, perguntando: de onde nos vem, de repente, essa vontade de pegar a terra nas mãos, de abraçar uma cidade e de ir ao encontro das pessoas com a inocência de uma criança sem medo? Minha única resposta: desse desejo de arrancar os pesos das costas e andar pelas ruas com a leveza dos passantes capazes de viver pequenas grandezas.

Juremir Machado da Silva é escritor, jornalista e historiador. É doutor em Sociologia pela Universidade René Descartes, Paris V, Sorbonne. Em Paris, de 1993 a 1995, foi colunista e correspondente do jornal Zero Hora. Atualmente, além de coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUC-RS, assina uma coluna duas vezes por semana no jornal Correio do Povo de Porto Alegre/RS.

Texto publicado no Jornal Zero Hora
Lançamento do livro "Getúlio" na Livrarias Porto, Londrina

Caso, compro uma bicicleta ou vou pra Nova Iorque?

Esse poderia ser o título do Blog para esses próximos dias.

Saudades da Casa dos Perdidos

estamos no james
a garçonete me deve uma gelada
a dani pensa numa música do nazareth,
ou seja, pensa no amor,
volta e meia e ainda de vez em quando ele: o amor.

ana paula pensa nas corridas de pinhais,
ou seja, pensa no inadmissível
pensa que tem que parar de beber para trabalhar

rod pensa em escrever aquele punk rock, ou seja,
pensa em todos nós na praia a gente de cabelos
interminavelmente azuis na praia

eu também penso na gente
penso no que a gente sente pensando,
e também no que a gente pensa sentindo,
ou seja, penso na gente interminavelmente em geladas e geladas e geladas

estamos no james
a garçonete ainda me deve uma gelada
e a gente pensa na cínthia
quando penso na cínthia
penso em master, em mau-mau
em macarrão cheio de queijo ralado
repleto de azeite de olivado jeito que ela gosta

penso em rubens
penso em tudo que possa incomodar a elaine
penso em vinhos na decoração de todas as paredes daquela
casa maravilhosa e insuperável,
a casa em que os perdidos se encontram

quando saio à noite e penso em cínthia
começa a tocar killing moon dentro de minha cabeça
inevitável então pensar em romper e quebrar todos os récords etílicos
dessa cidade

cínthia, quando a gente pensa em você
pensa em tudo que dentro da gente diz sem precisar insistir,
nossa amizade.

ou seja, cínthia, ainda estamos no james, no korova, no becks, no vox (só a dani),
no mafalda, no cobras e em vários outros bares só esperando você...
e a desgraçada da garçonete que ainda me deve uma gelada

do escriba, Fernando

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 1973. É autor dos livros de poemas: Manual de ver nuvens (1999), O livro de sonhos (1999), Tudo que não sei sobre o amor (2003), Como tornar-se azul em Curitiba (2004) e Pétalas, pálpebras e pressas (2004).

porque há um excesso de céu nos olhos seus

porque há um excesso de céu nos olhos seus deixei
amanhecer páginas em branco sobre a neve para te conhecer.
porque há um excesso de céu nos olhos seus todos os nomes
do amor escrevi para te esquecer.
porque há um excesso de céu nos olhos seus noite a noite
tenho que te perder em tudo que for preciso. porque há um
excesso de céu nos olhos seus entendi que para as magnólias só
o sentir tem sentido.
porque há um excesso de céu nos olhos seus de manhã li
lírios em teus delírios. porque há um excesso de céu nos olhos
seus de tarde vi verdade nas violetas.
porque há um excesso de céu nos olhos seus sei que se
temos uma crise depois temos crisântemos. porque há um
excesso de céu nos olhos seus ontem enterrei todos os
cadáveres das flores que a florista não quis.
porque há um excesso de céu nos olhos seus ignorei rasguei
todas as cartas que o outono me mandava. porque há um
excesso de céu nos olhos seus agora o inverno jamais irá saber
meu endereço outra vez.
porque há um excesso de céu nos olhos seus um telefonema
me despertou no meio da noite. era a primavera apreensiva e
ofegante. uma primavera repleta de relógios hesitantes.
porque há esse excesso de céu nos olhos seus um telefonema
me despertou no meio da noite no meio da manhã no meio da
tarde. era a primavera. e eu disse

sim.


Fernando Koproski, meu amigo poeta nasceu em Curitiba, em 1973.
É autor dos livros de poemas: Manual de ver nuvens (1999), O livro de sonhos (1999), Tudo que não sei sobre o amor (2003), Como tornar-se azul em Curitiba (2004) e Pétalas, pálpebras e pressas (2004).

Impressões

Ela dança.

Copos, cores, The Cure, vultos, perfumes, balcão, Morrissey, fumaça, blood marys, esbarrões, quadros, gente, conversas banais, suor, cigarros, Chemical Brother´s, rostos, energéticos, cantadas, empurrões, janelas, vodkas, Depeche, olhos, cumprimentos, banheiros, garrafas, Lauryn Hill, penumbra...

São 3 talvez 4 horas.
Ele entra.
Ela já o aguardava.
Talvez ele saiba.
Coincidência ou ato premeditado passando por casual?

Ela improvisa um sorriso que assim como seus olhos, sem esforços, teima em perseguí-lo.
A boca seca e uma pequena confusão causada pelo álcool há pouco ingerido.
Ichi! Um soluço inconveniente.

Pensa rápido em uma simpatia para que ele suma depressa.
Pára de respirar.
Ele continua andando em direção ao bar, entre vultos sem rostos, em preto e branco,
como brisa discreta, suave, gélida, envolvendo e distante.

Copos cheios, vazios, Madonna, movimentos, cores, perfumes, angústia, balcão, Smiths, fumaça, conversas, energéticos, empurrões, janelas, Loves in the Air, margueritas, Abba, cortinas pretas, confusão, banheiros, garrafas, penumbra, some, passa, aparece, Pixies, desaparece, bocas, espera, Ira, surge, disfarça, encara, finge que não vê, pessoas, cerveja, ânsia, Lobão.

Ela não consegue o tocar.
E é assim que ele a seduz.
Os olhos se encontram.
Um "oi" tímido, quase contido.
Ela responde rouca e embaraçada.

Ela tenta, mas mesmo com 25, volta aos 15.
- Droga!Exaltada, fala demais, algumas bobagens, é prolixa.
Derruba a comanda. A tensão diminui.
Talvez a bebida ou a música que ela adora.
Ela nunca escuta o que ele fala.
Mas não pede para ele repetir.
Ele a puxa pelo mão.
Ela tropeça.

Saliva, vinho, boca, quente, vermelho, suor, braços, abraços, lençóis, pêlos, chocolate, U2, roupas pelo chão, frio, taças, arrepio, meia luz, bagunça. fotos, livros, cheiro, ritmos, vontades, fissura, corpos, Gargage, nudez, sapatos, dor, carinho, odor, gemidos, beliscões, calor, mordidas, quadros, enrosco, fluídos, boca seca, percorrem mãos, umidez, camisinha, sons, sono, some as estrelas, silêncio, contato, meias, azul, sol.

Cínthia, há muito tempo atrás...

sexta-feira, 2 de março de 2007

Ploc, James, e os cabelos ao vento

Polaquinho, a cidade anda muito estranha. Conversando com balzaquianos e balzaquianas pós-punk, gente que dançou The Cure e The Smiths, moçada que pulou atrás The Echo and the Bunnyman, fiquei sabendo de histórias por demais cabeludas. E bem no sentido estrito da palavra. Questões que perseguem o espectro das agonias capilares e chegam a reverberar nos folículos pilosos ao ponto de esmorecer suas cores vívidas e torna-los cãs pálidas e sem viço.

— É propaganda de Shampoo feito no MIT?
Sentado na praça de alimentação do Estação Plaza, a vida caminha a passos morosos. Seja nas calças largas que deixam a cueca aparecendo,(para quem não acredita, na Virgínia [o estado Americano, não a pudenta coprofílica], querem proibir isso) seja na maquiagem que voltou à moda carregando os olhos com sombras escuras como se a noite tivesse sido longa ou tivesse faltado gelo na aula de vale-tudo. Gente de todas as idades, pessoas de calça jeans rasgada feito Neil Young, camisetas com alfinetes em troncos magrelas feito Sid Vicius, rostos arredondados como os de Betty Bop, pernas cabeludas feitas do Lemmy, do Motorhead, ou seja, a fauna que se mantém up to date com o tempo que já foi e com os ídolos que hoje ou estão a sete palmos de terra ou cuidam para que os últimos fios de cabelo não escapem da careca.

— Onde ele quer chegar? Vamos, responda!

— Ele ta enrolando. É um babaca.

Na mesa ao lado, duas garotas conversavam. Uma delas mantinha a postura ereta, olhos vivos na movimentação ao redor, como se quisesse capturar o momento em sua dinâmica de filme noir. A outra, alguns dez ou quinze centímetros mais mignon, gesticulava assoberbada com o resultado de suas últimas decisões;

— Mas, você ficou muito ploc com esse cabelo punk new wave!

— Você acha?

— Completamente ploc. Só que antes você estava mais bonita. Daquele jeitinho loirinha e cabelo de princesa. Toda queridinha.

Polaquinho, Lair Ribeiro tem sua razão, assim como Paulo Coelho e muitos monges tibetanos. As palavras têm poder e são capazes de modificar a realidade de um modo que nem Cthulu, o senhor das sombras pode. Mal ecoou ao vento a última vogal, o rosto da menina (realmente, ela estava completamente ploc, seja lá o que isso signifique) sofreu a transmutação das transmutações. Feito a tempestade do fim dos tempos, seu olhar vivo aprofundou-se em um estado de catatonia pré-menstrual e que, como era de se esperar, redundou em um grito agudo e cheio de conseqüências. De um momento par ao outro, o que era uma praça de alimentação normal e agitada como deve ser uma praça de alimentação normal e agitada, tornou-se uma pequena praça de guerra normal e agitada. Corpos foram ao chão, pratos partiram e latas explodiram em uma ordem assimétrica de ano novo chinês. No curto espaço de tempo que durou o grito Munchano, o mundo krakhoviano retornou ao caos. Pelo menos até que o som silenciasse e a voz da garota soasse quase normal.

- eu sabia! Eu não devia ter feito isso. Quando ela terminou de arrumar meu cabelo eu falei que não era isso que eu queria. Que eu não era assim. Antes eu era diferente. Foi uma correria no salão, com gente trazendo água, levando cremes, ligando os secadores e mexendo com escovas no topete.

— Ah, o moicano ficou legal.

— Você acha?

— Totalmente ploc. Não era isso que você queria. Impressionar os modernos do Jame's?

Penso em minha mesa isolada e solitária, como a ilha do náufrago Tom Hanks, ou o ninho de amor de Robinson Crusoe e Sexta-feita, que nenhum homem é uma ilha, John Donne já dizia. Nem um homem é uma ilha, isolado de qualquer continente, no entanto, eu em minha ignorância contumaz, desolado da vida mundana que admite cabelos de mil formas a identificar

- Você não acredita. Na mesma loja que eu fui semana passada e ninguém quis me atender, eu apareci com meu visu novo e todas vieram falar comigo, me beijar, me perguntar se eu ia no Jame's e coisa e tal. De repente eu entrei na moda. Eu me vendi!
Tribos que existem desde sempre. Vendo as lágrimas nos olhos sem sombra escura pois

— Montada você deve ficar mais ploc ainda.

— Mas, diz de verdade. Ficou legal?
No final das contas, seja como for a produção, seja qual for o cabelo que cobre tua cabeça, mais vale um amigo na mesa que centenas de Colestons esvoaçando.

— Muito legal.

Wilson Sagae.
Publicado em 10/03/2005 no Jornal do Estado

Até para os pós-punks o amor é importante

Polaquinho, a vida pós-punk exige muito Sonrisal. E para ser sincero, suspeito que o mundo foi contaminado com o tal do Enterobiofórmio — aquele remedinho para dor de barriga. A prisão de ventre é uma constante.

Mas não é disso que vim falar. Aqui estou eu, na plataforma do mundo para anunciar que a filosofia venceu, e mais precisamente a fenomenologia. É isso mesmo, caro Polaquinho de sardas e cabelos claros e olhos de quem viu o mar e o traz carregado na íris. Edmund Husserl conseguiu. Seu estudo das essências alcançou o patamar supremo dentro das escalas do conhecimento. Se não fosse assim, como seria diferente?
(ainda gosto dos Ramones, como todo mundo)

Batgirl nem ao menos suspeitava do que a estava esperando além da esquina. Com os pés apoiados em seus imensos saltos anabella descia a rua das Flores marchando ao ritmo do rebolado cadenciado que a vida lhe propunha.

(não são assim todas as mulheres, diria Warhool)
Laura pensava em outras lides, carregando uma grande sacola da Gap, consumia seus dedos no esforço de levar de um lado a outro da cidade um belo livro de arte comprado na Feira do Livro Usado. Depois de anos em louca procura finalmente encontrou a coleção de aquarelas de Hahushô. Sob seus pés sapatilhas de fibra de algum material oriundo da Indonésia ou Nova Zelândia, com solado Amazonas — o mais usado no mundo.

Cin ainda estava na cama, aproveitando o sábado de sol para ficar oculta e não queimar a pele alva e conservada em longas noitadas no Jame's. Sim, Polaquinho, ela retornou ao James depois de tudo o que aconteceu, e o fez em grande etilo, convidada pelo malfadado amor não amor de fato. O rapaz de desolada figura, após retornar para a noiva de anos, telefonou para avisar do acontecido. Como muitos daqueles rapazes que fazem o tipo Johnny Rotten que vai ao dentista, este não fugiu à regra. Apesar de querer de todo o seu âmago viver a tal da balada sem volta, acabou ancorado no cais da boa família e, pelo que tudo indica, vai se casar no próximo verão.

(aqui abro meu fatídico parênteses. O que realmente está acontecendo neste mundinho de coco acumulado nas fechaduras? Por mais que tentemos evoluir continuamos a viver e reviver os mesmos paradigmas da idade da pedra. Continuamos ser Flintstones em uma batalha dos sexos na qual apenas os bifes de brontossauro saem derrotados)
de qualquer modo, as três mulheres estão de algum modo se encaminhando para onde devem se encaminhar. Batgirl indo para a missão impossível de cortar os cabelos — apenas as pontas — e ainda ter tempo de retornar para casa e trocar de roupa para uma curta viagem ao paraíso curitibano — as praias de Santa Catarina!

(o paraíso tem nome: bombinhas.... que beleza!)

Laura pára na boca maldita para tomar um cafezinho e espairecer das necessidades que

— naquela época já faziam arte melhor que nossa arte de restos....sem pensar realmente que sua vida está para ser decidida nos detalhes.(ainda existem punks na periferia e na rua XV e andando pelos shoppings com suas roupas pretas, calças coladas e palavras que deviam ser agressivas mas se tornaram fashion demais para ofender qualquer um, mesmo as tias do Pedro)

Cin, na noite anterior bebeu a quinta caipirinha de vodka e olhou para o amor que poderia ter sido e não foi e disse com todas as palavras o que realmente pensava da situação. Com os olhos apertados pelo álcool e a língua um tanto engrolada, sorriu o riso irônico de Baco e

— desculpa, tá
— tudo bem

e tudo ficou por aí. Cin resolveu o resto de suas frustrações junto à privada da direita e Johnny Rotten fracassado foi para casa de táxi pois seu automóvel estava na oficina de polimento.

(E as essências, meu caro Polaquinho? Pois eu mesmo respondo, meu caro Polaquinho, as essências chegam na história de bicicleta)

Batgirl alcança a tal da esquina que ela não sabe que é uma esquina importante de sua vida e olha para os dois lados antes de atravessar.

Laura, com a sacola e o livro de seus sonhos continua caminhando, mas ainda sem entrar no campo de visão de Batgirl pois um homem de ombros largos e barriga mais larga ainda a impede de ir mais rápido. Cin está de pé, na janela do apartamento do amor que nunca pensou que poderia e parece que nunca será mais do que uma noite mal dormida e tenta ver além das nuvens se existe uma mensagem escrita por Ets.

(este é o núcleo da história que te conto hoje, Polaquinho. Percebeu o suspense. Na verdade, numa verdadeira narrativa punkosa devia haver um monte de pó branco na mesa do apartamento, Batgirl deveria estar meio surda devido ao ensaio da banda e Laura desejaria apenas um novo figurino para e adequar ao mundo novaiorquino que conhece apenas pelas revistas)

No momento que Cin cansa de olhar o céu, encara o chão distante sete andares e vê um ônibus sair do ponto sem dar seta. Um ciclista atento consegue desviar mas acaba subindo na calçada com as rodas trançando guidões e o corpo bailando um samba descompassado na tentativa desesperada de não atropelar ninguém. O homem gordo na frente de Laura pára abruptamente e Laura

— pelo amor de deus
dá a volta e fica exatamente na linha da bicicleta desgovernada.
(aqui tinha que ter a música, talvez Television, ou Clash, mas servia o Joelho de Porco)

Batgirl, ao desviar da roda traseira da bike, escorrega do alto do salto anabella e dá um dois cinco passos inúteis tentando recobrar o equilíbrio e(as essências, eu lhes digo, dominaram as escolas de conhecimento e) Cin, do alto do prédio respira aliviada e, percebendo o valor da vida, olha com certo carinho para aquele que não devia valer nada como amor mas bem cumpre a função de preencher os espaços múltiplos de sua solidão.

Mais tarde, comendo uma bomba na confeitarias das Famílias, vai ligar convidando-o para um cineminha. Está passando, na cinemateca, Sid and Nancy. Mesmo para os punks e pós-punks o amor é importante.

Wilson Sagae
Texto publicado no Jornal do Estado.

Pais celibatários e cabelos superplocs

Vejamos, Polaquinho, o que realmente aconteceu. A coisa começou assim (digo coisa porque estou atrasado com este texto e preciso escrever sem pensar e se pensar muito acabo não escrevendo e cedendo às tentações do almoço)

Cin estava olhando pela janela do escritório e ajeitava os fios soltos de seu penteado. Apesar do corte de cabelo ploc ser um arrojo de cores e desfiados, as obrigações profissionais a impedem de despentear a peruca a contento. Sendo assim, olhando pela janela, encarando a rua Marechal Deodoro com aqueles olhos claros e perscrutadores, pergunta-se.
— por quê?

Qual o motivo que levou ele, aquele que devia ser seu grande amor da estação a agir como agiu. Sim, senhoras e senhores, como em toda história aqui temos nossa heroína pós-moderna, pós-punk, pós-secadores de cabelo e Welatton a buscar respostas aos dilemas existências de sua curta passagem terrena. Com o dedo indicador mantendo o ritmo cadenciado da música que escapa do alto-falante preso no teto, foge sua atenção para a noite anterior. A fatídica noite anterior.

(ok, aqui eu preciso interferir no relato e dizer que eu realmente acho imoral o que estou fazendo. Pela pura falta de o que dizer, vou dizer o que foi dito por outro. Plágio? Não, mas chega perto)

Cin arrumou-se como pode. Uma semana antes fez o corte de cabelo mais ploc que sua mente hipercriativa destrambelhou para que tudo estivesse bem assentado nesta domingo eufórico. Amanhecida ansiosa, acordou antes do nascer do dia e ligou para Batgirl perguntando se realmente.

— Você acha mesmo?
tomava a atitude correta.

— Se ele te convidou é porque ele quer que você vá.
Nem foi à feira do largo da ordem, ao invés disso evitou grandes trajetos para não cair na tentação de se empanturrar de guloseimas polacas e baianas. Ciente de suas muitas ansiedades e expectativas, preferiu reduzir a refeição matinal a uma mera bolacha acompanhada de chá de camomila — sem açúcar. Com o estômago um pouco menos vazio, encarou-se pela sétima vez em um dos espelhos da casa – isso desde que acordou – e fez careta.

— Droga.

Acendeu um cigarro e foi até o banheiro e deu uma bela vomitada, desfazendo em ácidos estomacais as frustrações que antecipava em idéias. Afinal, o que o cara queria convidando-a depois de tanto tempo. Já se conheciam fazia anos e nunca ele deu sinal algum. No máximo uma balinha ou um bombom comprado e dado de forma casual e um passeio de negócios. E isso, como todos sabem, nada mais é que estratégia de sedução empresarial. Para os chefões Veuve Cliquot, para subalternos, balinhas e bombons sonhos de valsa e dancinhas sem conseqüências maiores.

— Droga.

Sem conformar-se com a face pálida e achando que o corte de cabelo — apesar de estar superploc — não condizia com sua imagem de jovem arrojada (as pessoas acham que a vida acaba aos trinta anos. Cá estou eu para dizer que é mentira. Na verdade a vida acaba aos vinte e dois anos. Quando a adolescência entre na fase três, todas as esperanças reduzem-se ao dinheiro que temos na carteira para pagar as pequenas vontades. Grandes sonhos, fiquem na cueca da Madonna)

Cin apagou o cigarro e foi escovar os dentes, cuidadosamente, uma a um para garantir o mais branco dos brancos. As horas passam. O domingo se consome na TV a cabo e nos telefonemas para Batgirl.
A vida é assim mesmo, podemos convir, Polaquinho, mas poderia ser mais. Cin pula o almoço e pesa-se no banheiro. Uma diferença mínima de duzentos gramas. Talvez um doce...

— Não. Um segundo na boca, eternamente nos quadris.

Cin lembra-se que não é assim que deseja ser lembrada. Deita-se no sofá da sala e pergunta par ao pai o que ele vai fazer a noite. O pai responde que vai

— Assistir o Fantástico, como todas as noites e muda o canal, procurando algum bom jogo de futebol.

Cin pensa se a vida resume-se a isso. O anos passados, acomodar-se ao mundo da telinha e sonhar apenas com o que não foi e com o tempo perdido até chegar à velhice.

— Pai, o senhor acha que eu devo casar?

O pai levanta-se vai até a cozinha e volta com um belo prato de macarrão frio do almoço.

— Quer?

— O senhor não respondeu.

— A vida é assim. A gente nasce, cresce, casa, deita no sofá e come o macarrão frio do almoço enquanto espera que o ciclo se perpetue.

— Eu não quero isso pra mim.

— Então não casa.

O macarrão vermelho cai em fios pelo queixo e marca a camiseta branca com um caminho minhoca. Cin levanta-se e vai até o banheiro e se pesa novamente. Duzentos gramas e nada mais. Volta e senta-se ao lado do pai. Com o garfo que trouxe da cozinha, pega pesadas garfadas. O domingo avança. Segunda-feira, nada devia ser como foi. Cin olha pela janela e seu cabelo ploc não se ajeita. Ontem foi trágico, mas podia ser pior. Pelo menos existe Viagra.

— Se ele ao menos tomasse.

O pensamento de seu pai tomando Viagra faz Cin levantar e encher a caneca de café, com bastante açúcar.

— Depois que nascem os filhos os pais deviam virar celibatários. Que horror!

Wilson Sagae, escritor, sócio do Bureau de Fatos, amigo, motoqueiro e samurai nas horas vagas.
Publicado no Jornal do Estado