
Este foi o primeiro beijo do meu irmão. Pena que ele recortou essa foto, a original é muito engraçada: estou atrás do casal aos prantos. Fiquei enlouquecida de ciúmes e caí no berreiro. Ela foi tirada em Minas Novas, Minas Gerais, na AABB (Associação do Banco do Brasil). Eu, meus pais e meus irmãos moramos lá até encontrar uma casa para nós. Foi muito divertido morar em um clube cheio de espaço para brincar. Quem me consolou esse dia, foi o boy do banco. Um gatinho lindo, muito mais velho do que eu. Por tanto, meu terceiro amor, e platónico. Meu irmão tinha seis anos nessa foto, eu sete e o boy uns 16. Complicado, ele nunca soube. O primeiro de uma série de amores guardados, que acabam arquivados em caixinhas, com cartas nunca enviadas, palavras nunca ditas, sonhos e beijos guardados.
Meu primeiro amor, foi meu pai, é claro. Ele adorava me levar no trabalho dele, nas rodas de truco, nas rodas de viola (eu lembro que eu cantava uma música linda e triste, algo como "o sertão vai virar mar, dói no coração, com medo que algum dia o mar também vire sertão).
Meu pai também, adorava visitar os clientes do Banco. E lá ia eu junto, cantarolando com ele músicas sertanejas, atravessando os mata burros (eu morria de medo deles, achava uma maldade com os animaizinhos).
Íamos nos engenhos de farinha, nos alambiques de pinga, nos fornos de bijú.
Não teve um sítio do Vale do Jequitinhonha que eu não conheci com meu pai.
Ele era adorado pela comunidade e pelos colegas de Banco. E por mim, é claro.
Meu irmão foi o segundo que amei.
Criança linda, encantadora, boazinha.
Eu lembro que toda a Páscoa meu avô mandava de São Paulo uma caixa repleta de chocolates. Eu e minha irmã devorávamos sem parar todos os doces. As cidades que morávamos eram tão pobres que não tinha telefone, piscina, posto de gasolina, hospital e para o desespero das crianças chocolates! O meu irmão distribuía a parte dele para as outras crianças. Eu lembro que eu achava tão lindo aquela atitude, invejava por não ter o coração assim tão bom. Eu até escondia a minha parte. Gulosa!
Meu irmão era a loucura das garotinhas da sua idade. Bilhetinhos, presentes, declarações de amor. Pudera, o único galego da cidade. E fofo que só.
Amanhã meu irmão se casa com a Ana Carolina.
Espero não abrir um berreiro como nessa fotografia antiga.
Ele continua o mesmo garotinho amável e brincalhão de sempre.
Fer, eu amo muito você, seja muito feliz nessa sua vida nova.
Falta apenas um pouco de ambição para esse garoto.
Do meu terceiro amor eu não tenho mais notícias. Aposto que é um homem lindo.
Espero que ele esteja bem em que parte do mundo estiver.
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