segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Amor e suas filosofices

Ao longo dos séculos, vários filósofos manifestaram suas idéias a respeito do amor, quer ressaltando seu valor positivo e exclusivamente humano, quer lendo nele a expressão inefável da transcendência, ou ainda tratando-o como meta inalcançável. Seguindo essas diretrizes, o professor de filosofia e teologia Maurizio Schoepflin reuniu algumas das principais doutrinas ocidentais na antologia O amor segundo os filósofos.

O primeiro pensador a elaborar uma reflexão ampla e profunda sobre o assunto foi Platão (428/427-347 a.C.). Na concepção do filósofo ateniense, este sentimento impulsiona o ser humano a elevar-se ao mundo ideal, onde residem a verdade, o bem e a beleza. Amor platônico significa disposição para buscar o que é eterno, perfeito e imutável, cuidando para que as paixões não o transformem num afeto físico. Também julgando negativamente a passionalidade, o filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677) identifica o amor como uma forma suprema de racionalidade, possível quando o conhecimento liberta o espírito dos desejos, aproximando o homem da felicidade completa.

No centro de sua filosofia, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), por sua vez, realça o que considera imperativo para a humanidade: voltar ao "estado de natureza", pois o progresso tornou os homens egoístas, violentos e desordenados. O amor deve encontrar de novo sua dimensão mais autêntica, aquela que a própria natureza lhe atribuiu e os seres humanos distorceram.

Marcado pelo pessimismo, o pensador Arthur Schopenhauer (1788-1860) classifica o amor como um sentimento falso e enganoso. Segundo ele, por mais etéreo que possa parecer, o sentimento amoroso está sempre enraizado no instinto sexual e seu objetivo final é o ardente desejo de reproduzir, o que pode levar à redenção, ou seja, à entrega total do anseio pela vida. Em nome do amor, o ser humano está disposto a cometer qualquer perversidade e aceitar qualquer sofrimento.

Entre as diversas exposições que O amor segundo os filósofos apresenta, encontra-se também a de Jean-Paul Sartre (1905-1980). Na visão do filósofo parisiense, a união amorosa é um conflito incurável, já que assimilar a própria individualidade e a do outro em uma mesma transcendência implica o desaparecimento do caráter de um dos dois. Quem ama limita a liberdade alheia, apesar de ter a convicção de respeitá-la. Para Emanuel Lévinas (1905-1995), entretanto, a identidade mais autêntica de cada pessoa está ligada à responsabilidade com relação ao outro. O que sustenta o ser humano é a proximidade com seus semelhantes, portanto, ele deve aceitar incondicionalmente o fato de ser responsável pelo outro e refém em suas mãos.

Contradição, luzes e sombras, mas sobretudo potência, esperança e vida. Assim é o amor, como mostra Maurizio Schoepflin na apreciação dessas e de outras interessantes teorias. Um sentimento que dá forma e alma ao mundo e que inspira o pensamento e as obras dos homens, desde a arte até os domínios da espiritualidade, da ciência e da poesia.

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